Ei, o que é amor?

Julhy Van Den Berg

Já pensei que sabia o que era amor várias vezes, mas toda vez topo com algo que me mostra que não sei de nada. Na mais simples explicação eu diria que amor é quando o mundo vira todo de cabeça pra baixo e tu fica ali voando e rindo de tudo o que o outro faz.
Amor é sentir as borboletas no estômago – o que é um sentimento horrível, mas no amor é bom – e ficar feliz, é não ter certeza do amanhã e sair correndo sem rumo.
Amor é querer gritar, pular, deitar, ficar quietinho, querer tudo e nada. Querer voar pelo mundo, porque estamos flutuando, ESTAMOS AMANDO e ao mesmo tempo querer ficar ali, paradinho, vendo o outro cortar as unhas do pé!
Amor é não parar de pensar no outro e não achar isso doentio, porque poxa vida, é AMOR NÉ?
Amor é a doença mais gostosa que podemos ter.

S.R.

Julhy Van Den Berg

Tem gente que eu beijaria até o dia amanhecer, tem gente que eu mataria sem nem ao menos conhecer, uns eu amei sem nem perceber e outros eu apaguei antes mesmo de querer.
Eu caminhei até uma praça, era fim de tarde e minha cabeça estava a mil, nos balanços tinham crianças sorrindo, no escorregador havia uma fila enorme e todas se empurravam querendo que sua vez chegasse logo, e eu? Apenas ficava observando. Meus pulmões se enchiam de fumaça e eu só tentava lembrar como tinha sido a minha infância, eu cheguei a brigar pelo escorregador?
Lembro-me de brigar para não comer o feijão, não vestir o vestido e recordo-me de receber palmadas por cortar o cabelo das bonecas, pintá-las de verde e as enterrar no fundo do quintal, dizendo que estavam mortas. Era o maior cemitério de bonecas, pensava eu. Nunca suportei esses padrões femininos. Meninas de rosa e brincando com Barbie, meninos de azul e brincando de bola, olha que ridículo!
E ali estava eu, reparando nas crianças e tentando lembrar tudo o que fiz e deixei de fazer. Era incrível como todos brincavam sem se preocupar muito com o que deviam fazer, até porque eles não tinham nenhuma preocupação e eu senti saudade da infância a qual eu não me recordava muito bem.
Então a tristeza me tomou por completo e eu lembrava a infância que tirei, quanto tempo levaria para me esquecer de Ricardo? Tão puro e doce, foi tão fácil na hora. O passeio no zoológico, o picolé depois da pipoca e o fato de ele ser tão pequeno facilitou o trabalho de procurar onde guarda-lo, mas agora eu só queria esquecer. Já tinham se passado tantos anos e eu lembrava quase tudo.
Caso houvesse a chance de apagar um fato da vida eu apagaria este, sinto falta de brincar com Ricardo, de ver sua risadinha enquanto assistia televisão e do seu abraço carinhoso toda vez que eu lhe contava uma história.

Perdão Ricardo.

Descanso

Julhy Van Den Berg

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Abriu o olho um pouquinho e a luz lhe invadiu a alma, o sol forte brilhando pela janela tomava conta de todo o quarto e esquentava aquele corpo sonolento que estava tentando levantar, largar a cama, usar as pernas e caminhar até a geladeira, desbravá-la atrás de um copo de água bem gelada.
Pés descalços, camisa branca furada e short preto curto – esse que ela usava todos os dias para dormir – os cabelos eram um emaranhado de cachos que tinham uma forma engraçada, mas ela não ligava e até gostava, celular em uma mão e na outra um tique nervoso e bater na perna. Bebeu seu copo d’água e retornou para o quarto.
Voltou a descansar a cabeça no travesseiro, e tentava sem sucesso enterrar a mente nas músicas, mas a única coisa que lhe vinha na memória era aquele perfume maravilhoso de uma pele um tanto morena, que era acompanhada de um sorriso esplêndido, gargalhada assustadora e no canto aquelas covinhas charmosas que faziam toda a diferença. Ok, esqueça.
Há tempos ela tinha largado o café, as frituras, reduzido os doces e seu apetite tinha diminuído de maneira quase assustadora. Ela fechou os olhos.

Tudo era tão frio que seus dedos só não haviam congelado por conta do esfregar das mãos, olhando para todos os lados e correndo, parando às vezes para respirar, o que se tornava difícil com a temperatura.
Correu até o fim da rua estreita e seu objetivo era a caixa de correio, lá tinha um bilhete escrito com tanto ódio que era possível ouvir os gritos pelas palavras ali escritas, porém não se tinha conhecimento do que realmente constava naquele pedaço de papel.

Abriu os olhos, assustada e com calor.
Parecia tudo tão real, tão forte, a respiração ofegante a fazia pensar em cada atitude tomada naquele dia – ainda não vivido – e na semana. Então voltou a lembrar do perfume encantador e seus olhos voltaram a se fechar.
Descansai-vos.

O Sonho

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Em uma cidade beira mar havia um grupo de jovens que se dedicavam no cuidado de cadeirantes, sim, eles cursavam uma faculdade específica para cuidar daqueles que não podiam usar as pernas como os outros. Entre esses estudantes tinha uma garota meiga, calma e que nunca falava, muitos achavam que ela poderia ser muda e outros pensavam que a menina era só tímida, até demais. E então todos os dias aqueles cuidadores se empenhavam em dar apoio aos necessitados, encontrando nos sorrisos cansados o pagamento do trabalho.
Após o serviço Alice, a menina possivelmente muda, caminhava até uma caverna que se encontrava na praia, ficava descalço ela sentava em uma pedra e esfregando os pés na areia úmida finalmente emitia sons, cantando lindamente e a percussão ajudava a deixar sua voz cada vez mais encantadora, tudo se casava naquele local. Pescadores que rodeavam o lugar e que por sua vez acreditavam em lendas tinham medo de seguir até onde estava a menina, pois achavam que seria uma sereia, pronta para lançar neles o seu feitiço. Logo anoitecia e nossa cantora retornava a calar-se e ia para casa. No outro dia tudo se repetia.
Então com o passar do tempo Alice começou a se soltar e muitas vezes era vista cantando pelos corredores, sorridente – como de costume – ela até puxava assunto com os pacientes e em certo dia um deles, que se dizia adivinho, parou a menina no meio do salão e disse que logo algo magnifico aconteceria em seus fins de tardes cantantes. A garota um tanto assustada, pois não sabia como aquele paciente sabia da rua rotina, apenas sorriu e continuou a caminhar pelo salão, indo até a saída e assim seguindo para sua caverna.
Após uns dez minutos caminhando ela chega até a caverna, o céu estava com aquela mistura simpática do laranja e rosa, como sempre a menina tira os sapatos e finca os pés na areia úmida, senta na pedra e enche os pulmões de ar, então canta. É ai que algo talvez mágico acontece, a água do mar dança conforme a voz de Alice, a areia se move – arrasta-se – e as pedras se chocavam fazendo um som amigável com a canção, a menina sorria, cantava e sorria com uma alegria ímpar e aquela imagem era linda, como disse o paciente era magnífica. Digna de um sonho, tudo ocorria com perfeição, casava, aninhava-se fazendo dos vários um.
Infelizmente no fim era um sonho, não um sonho de Alice e sim de alguém que busca essa Alice pelo mundo, ainda desconhecido.

No explanation is simply

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Explicações nem sempre não necessárias, na verdade muitas vezes são impossíveis de serem dadas. É quando eu acordo no meio da noite e me vejo impossibilitada de dormir que minha mente se enche de pensamentos impróprios para o momento, o coração aperta e apesar de toda a dor se torna impossível chorar. Nó na garganta e olhos marejados.
Nem uma lágrima se permite cair e minha cabeça começa a exibir um longa-metragem de que dá todas as indicações que eu deveria apertar o stop e deletar, mas não consigo simplesmente fazer isso. O sangue que bombeia nas minhas veias parece ferver e é como se em segundos fosse evaporar do meu corpo e facilmente sair pelos meus poros, dai é como um baque, eu caio na tranquilidade e o filme acaba. Coração ainda apertado, maxilar contraído e sangue extremamente frio.
Rapidamente o sono toma conta de mim, os olhos molhados começam a despejar quantidades pequenas de lágrimas e pelo cansaço eu sou vencida e torno a dormir, é ai que mora o perigo, os sonhos.
Tardes de sol e noites estreladas – nem sempre – são os cenários dos mais lindos sonhos que eu tenho, tu vem tomando conta de tudo e tu não é só uma pessoa e sim várias que passaram pela minha vida, acontece que às vezes esse tu se concentra em uma só criatura. E dói. Coisas bonitas também podem doer. Dor de saudade, dor de desejo, dor de arrependimento, dor do querer pra sempre perto e eu te quero, como nunca quis alguém. E aquele sono que começou como o de um bebê após a amamentação, como a de um cão que correu o dia todo, como o de uma senhora idosa que passou o dia caminhando, aquele sono cansado se torna cansativo e imploro pelo despertar.
É impossível compartilhar cada pensamento, como seria o ser humano se lhe fosse proporcionado o poder da leitura de tal particularidade? Explicações nem sempre não necessárias, na verdade muitas vezes são impossíveis de serem dadas.

Diretamente de Calor City

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Um rapaz andava por terras desconhecidas, era filho de um senhor de pertences corriqueiros, batalhador o jovem jamais permitiu que terceiros invadissem seus caminhos e ababelassem os objetivos de sua vida. Roger era menino sofredor e saiu do gueto de uma cidade escaldante conhecida como Calor City e agora já sendo um homem de poucas – mas valiosas – posses vagava pelo território de Sertanejo City, assim como o próprio descrevia.

Do contrário de onde vinha anteriormente Sertanejo City era um local de clima agradável, da sacada de Roger era possível enxergar o lindo pôr do sol e embaixo na rua calma passavam crianças de bicicleta, que estavam sendo espreitadas de longe pelos pais e o nosso querido fugitivo do gueto apenas observava a beleza de mais um dia.

Durante o dia ele dedicava sua vida a aprender mais sobre a saúde dos animais, tentava se concentrar mais em estudos e menos em saudade, focava a energia em ser alguém e assim que voltasse a Calor City pudesse recompensar os esforços que sua família junta fazia por ele. Na noite o jovem corria para bailes de dança onde todos estavam elegantemente arrumados, rapazes retiravam moças para bailarem juntos os ritmos típicos da cidade, era como uma valsa elegante e educada, tudo com muito respeito e etiqueta. Perto do amanhecer o galanteador  acompanhava a linda moça com quem dançara a noite inteira para um passei a beira de um lago e lá chegando a colocava numa linda canoa artesanal que se encontrava colocada delicadamente na ponte rústica construída com cuidado por cima daquela água lindamente esverdeada.  Ao redor do lago folhas cor de laranja caiam sobre a água e Roger Salvador contava histórias de sua cidade quente.

Quando chegava a hora de voltar a sua realidade o Mr. Salvador encontrava com seus amigos e entre elas a mais nova amiga de cabelos cor de fogo e cortados de maneira única, outra de cabelos escuros como a noite e se não me engano havia uma terceira com madeixas cor de ouro. E eram elas que o ajudavam a seguir sua vida na nova terra.

 

Roger: R.S.

Não Título

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– Oh, por favor, são mais machucados inexplicáveis?

– Isso não é nada.

– Pare.

– Não se meta.

Manhã de terça-feira e nem ela mesma sabia explicar aqueles arranhões no rosto e aquele sangue nas costas que sujou sua blusa preferida, tinha maquiagem por todo seu rosto, garganta seca e uma inexplicável dor nas costas e isso tudo só era da conta dela. Da noite anterior a única coisa que se lembrava  era daquela garrafa de absinto na qual jamais deveria ter tocado, foi ai que tudo mudou, começou no primeiro gole.

Mesmo com toda ressaca não existia dor de cabeça, somente um sono interminável, e quando olhava ao redor não sabia o que era o que, onde estavam as chaves, celular, roupas e computador. Ok, pensemos: como cheguei em casa? Era terrível esquecer das coisas, por favor uma ajuda.

Todas as decisões que começaram a ser tomadas são colocadas em práticas aos poucos: não beber por um tempo, estudar, ignorar, reservar-se mais. Tudo por uma vida melhor, tudo para evitar o desnecessário mundo lá fora.

Adeus.

01:57

Textos

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Não é preciso, é desnecessário, mas é preciso. Tudo o que vejo na minha frente são pessoas, só mais uma ou duas, quem sabe até mais que isso e tudo mundo espera alguma coisa de mim ou das outras. Estão todos criando expectativas e elas são apenas máscaras que cobrem o real, não vai acontecer, nada acontecerá.

Morrer não é só morrer quando os que ficam sofrem com sua partida, nada deixa de se tornar nada a partir do momento em que alguém se importa, isso faz sentido? Sim! E todas as lágrimas derramadas sem motivos têm sim um porque, não é possível viver sem porquês.

No momento lhe sirvo apatia é só isso que tenho para oferecer.

As pessoas não importam, os pensamentos não têm valor, preto é tudo o que aparece na tela. Chega de telas coloridas pela falsa imagem de felicidade, a realidade é escura.  Realmente você precisa ter cuidado aonde pisa quando abre os olhos para a realidade, existem muitos buracos nesse caminho.

Canoas.

Ainda existe canoas colocadas delicadamente na beira de um lago, ainda existem folhas cor de laranja outono caindo sobre os rostos deitados na grama verde, mas a verdade é que isso não importa no momento, nada importa.

Pam ram pam pam, um brinde!

São noites em claro, são tardes de sono. Sorrisos. Sonhos. Manhãs incrivelmente estranhas.

As pessoas não importam, os pensamento não têm valor, preto é tudo o que aparece na tela.

Chega de pessoas desnecessárias, chega de fingir. Até parece que nada realmente não importa, a verdade é que tudo importa.

Quando um par de olhos se fecha eternamente de um lado do outro você enxerga vários pares de olhos afogando-se em lágrimas. E é bem ai que tudo passa a importar.

Então no fim das contas tudo importa tudo sempre importou e não adianta mentir. Desculpa.

Sorria, estão lhe filmando.

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Bateria forte, instrumento de sopro. Era uma ótima trilha sonora.
O sol forte refletia na tela do telefone, olhos se fechavam com a luz e sorrisos se abriam com meras lembranças de dez minutos atrás. E de repente todos começam a correr e sorrir, e sem explicação ela começou a acompanhar a corrida, tinha curiosidade de saber aonde iria dar. As risadas inexplicáveis ainda não faziam sentido e já haviam corrido demais.
Todos param.
Caídos na grama e ofegantes os três amigos fecham os olhos, ainda sorridentes e as pernas começam com os espasmos e de repente os chafarizes são ligados, a água os refresca e mais uma vez eles se levantam e começam a correr e rir pelo gramado, e escorregando vão ao encontro um do outro e se abraçam. Ela fica sentada, se molhando, observando.
Era tudo muito bonito, era tudo muito inacreditável, era mágico até demais para ser verdade.
Pessoas se aproximavam e começavam a fotografar, rir, filmar, apontar e fazer igual, pessoas copiavam.
E de uma hora para outra todos param, todos sentam, os chafarizes são desligados e a música para, todos fecham a cara, se enxugam e vão para um canto. A câmera continua a filmar somente o enorme gamado vazio e a tela fica escura, o letreiro sobe.

Realidades dos sonhos

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Olhe nos olhos e escute a batida do coração misturada com o som da respiração, desfoque. Passos de idas e vindas, um sapato de sola gasta e chicletes mascados por toda a noite.
Ao som da banca indie na cabeça a única coisa que lhe restava fazer era fechar os olhos e respirar, concentrar e esquecer… Tum tum tum era o som da bateria na cabeça.
Uma mão fria lhe tocava o pescoço e era um rapaz alto de aparência bem cuidada, dentes perfeitos e um perfume tentador, ele parecia estar fora do seu “habitat”, ela abriu os olhos e enxergou claramente os lindos olhos negros dele. De alguma maneira era muito fácil passar a noite admirando aquele rosto e até que a voz grave e suave cortou a hipnose, “Boa noite”.
Tonta e sem direção ela respondeu e iniciou uma conversa, sorrisos, toque de mãos e suor escorrendo pela espinha, a menina estava nervosa e perguntava-se “De onde apareceu ele? Onde esteve antes? Por que me tira o ar? Não posso perder a direção da conversa, ele é gentil demais para eu lhe fazer repetir as falas!”.
Além de gentil foi fácil descobrir que ele era extremamente inteligente, mas lhe faltava algo, ainda não sabia o que era talvez fosse o senso se humor e isso era essencial! Continuaram a conversa no café da frente, onde era calmo e nas caixas de som tocava “no buses” de arctic monkeys e isso a tranquilizava. De repente um telefone toca e o rapaz se levanta lhe dando adeus e no meio da despedida a menina acorda e tudo não passara de um sonho.
Levantar, escovar dentes e tomar banho e quando estava saindo de casa ela avista um rapaz alto de aparência bem cuidada, dentes perfeitos, olhos negros e um perfume tentador.