Sorrisos, cigarros e memórias

Julhy Van Den Berg

Trago o cigarro na esperança de acalmar os ânimos da euforia que muitas vezes é confundida com a ansiedade, da felicidade de bons dias, e da tristeza dos dias cinzas que tanto me assustam.
Minha boca toca o filtro, puxa o fumo e meu peito relaxa, mas as lágrimas caem e me toco da importância de não coloca a nicotina no meu corpo, tarde demais. Fuçando as caixas de memórias, que minha mente guarda de uma maneira nada aprovada por Marie Kondo, meu peito acalma e todos os demônios se calam.
O ontem vai se repetir, amanhã vai passar e hoje é importante também.
É engraçado como tem memórias que pregam na gente, meu corpo ainda se arrepia inteiro toda vez que me recordo da voz rouca, do gemido que sai entre os lábios e caiam no meu ombro. Talvez eu precise iniciar a prática de abraçar, agradecer e deixar essa recordação ir, no entanto é gostosa demais pra largar.
Então eu beijo outro cigarro para descansar meus lábios do sorriso besta que minha boca não resiste em arreganhar, toda vez que topo com essas memórias no início, meio ou fim do dia.

A chegada

Julhy Van Den Berg

    “E nas ruas da cidade tinha a gente ali, caminhando juntas”.
É assim nos meus sonhos e na lembrança de você indo me deixar no metrô, aquele dia eu queria ter ficado mais, porém não vou me arrepender de ter ido embora.
Ir me fez ver o quanto eu queria voltar correndo, o reencontro foi ainda mais gostoso que o outro dia, cheio de medo, nervoso e curiosidade. A vontade de dizer “eu te amo”.
O meu peito estava vazio, você chegou entrando com tudo, meteu o pé na porta e me preencheu, de amor.
Sigo na saudade que só aumenta e vai tomando conta de mim, dia após dia, desde o dia que eu te disse “até logo”.
Obrigada por ter chegado.

15/08, o dia que a saudade foi grande demais

Julhy Van Den Berg

Oi, outro dia senti tua falta… Falta do teu sorriso, das tuas esquisitices e teorias confusas, bateu saudade do teu carinho, do aconchego que era deitar no teu colo.
Me mostraram uma música e parecia que conseguiam enxergar através de mim, podendo ver os meus pensamentos chegando até você, pois era a música dos domingos preguiçosos, dos cafunés intermináveis, dos copos de cerveja, das tigelas de chocolate ou sorvete e de nós duas deitadas vendo filmes ou séries que nunca íamos terminar, sabe por que? Ou eu dormia ou me perdia nos teus beijos.
Terminei aquela série, estou esperando a próxima temporada e me deu uma vontade enorme de comentar contigo. Fiz tatuagens novas, queria que você estivesse comigo, mudei o meu quarto e não pude te mostrar. Fica até meio doloroso às vezes essa distância necessária, mas tudo bem, passa né?
Fiz aquele passeio que tanto combinamos, aquele lance de explorar a natureza, relaxar dentro d’água, fazer comidinhas e das risadas na roda de amigos, nossos amigos.
É, bateu saudade de ti e dos dias contigo e ela foi tanta que tive que conter as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos.

Of Monsters and Men – King And Lionheart

A homofobia existe sim!

Julhy Van Den Berg

É engraçado como as pessoas enchem a boca pra dizer “Não existe esse negócio de homofobia”, sinto lhe informar, mas ela existe SIM! E só quem passa sabe. Ela existe na sua fala de “aceito, não tenho nenhum preconceito”, isso só até o momento de não ser com algum filho ou parente seu, não é mesmo? Já cansei de andar na rua e ver pessoas olhando torto, julgando pelo que visto e não por quem sou.
E agradeço todos os dias nunca ter sofrido algo que me marcasse na memória*, porém conheço pessoas que não tiveram a mesma sorte que eu e sentem essa dor de sofrer LGBTfobia.
E também das pessoas que falam: “Porque usar essa roupa? Coloca um vestido, vai ficar mais feminina” Usa uma maquiagem menina, só pra eu ver como vai ficar”; “Já pensou em tentar mais um pouco? Vai que tu acha um rapaz legal…”
Acontece que eu não quero achar um “rapaz legal”, aliás, eu nunca cogitei achar esse tal rapaz legal. O que eu quero? Eu quero ficar em paz, sendo eu… Sacou?! Se você não tá confortável com isso, cala a porra da sua boca, mano, fica na tua e não fala do que você não tem propriedade. Talvez por todos esses seus comentários ridículos que eu tenha demorado tanto tempo pra me aceitar, contar pras pessoas e parar de ter vergonha de tudo!
Um dos dias mais legais da vida, depois que me assumi foi quando vinha andando de mãos dadas com uma garota, talvez eu estivesse com o maior sorriso de todos no rosto, porque ela era maravilhosa… E pra minha surpresa uma mulher gritou “QUE LINDAS, VIVA O AMOR!”, eu NUNCA imaginei que escutaria isso um dia.
O sentindo desse texto existir é que todos os dias várias pessoas são espancadas, mortas, estupradas, enfim, sofrem todo e qualquer tipo de violência, seja ela física ou verbal! E o mundo fecha os olhos pra isso, porque “ninguém é obrigado a aceitar tudo”, cara me desculpa, mas me faça um favor e vá se foder! Você e todo o seu preconceito.
Essas coisas vão parar de acontecer? Não. As pessoas vão parar de odiar? Não. Mas a gente pode tentar fazer diferente, não se calar, não aceitar o ódio alheio, não ignorar isso ou aquilo. Respeito é um direito meu e seu, eu respeito seus óculos espelhados e sua bermuda de surfista, então aceita minha diferença também, ok queridão/queridona?
E tenta se colocar no lugar do outro, tenta te imaginar numa situação em que alguém quer te impedir de beijar, de acariciar ou de apenas pegar na tua mão.
Tenta ao menos respeitar o amor do próximo.

Entre tantas coisas

Textos

É que um beijo pode sim significar algo, e de “nãos” que se constrói um coração, mas não é impossível viver sem amor há uma vida que segue.

                Parada em uma esquina ela estava a segurar uma xícara de café, olhos levemente fundos – como de costume – e voz irregular, com aquele velho resfriado que ia e vinha, não havia nada de diferente no seu dia até às 19:24 daquele domingo em que o único objetivo do dia era observar o movimento na rua de paralelepípedo. Pensamentos de “não olhe, não fale, você nem viu nada” passavam-lhe pela cabeça, ele chegou tão perto que foi possível sentir o ar quente que saia de sua boca e chegava a nuca dela e assim ia arrepiando todo o corpo.

“Oi”

Não ouvi, vou fingir que nem ouvi nada – esses eram os pensamentos.

“Vai me ignorar? Se quiser pode até fazer isso, mas teu corpo demonstra reações de que me viu e ouviu”.

Engraçado é que até às 19:23 tu estavas morto para mim”.

“Mas cá estou a me redimir por tudo”.

Não quero mais” – Pela cabeça passava: não o abrace, não o beije! Morto, ele não passa de um morto.

“Eu te peço perdão, ajoelho-me aos teus pés se necessário for”.

Só enxergo uma coisa necessária no momento para que eu me torne eternamente agradecida a ti”.

“Diga-me e assim farei”.

Vá embora”

“Se esse é teu pedido, assim farei meu amor, mas não esqueça que te amo”.

E assim fez o rapaz barbudo e cabisbaixo, ele se foi caminhando lentamente e a cada três ou cinco metros fazia uma pequena pausa na espera de um pedido para que o mesmo voltasse. E a menina que insistia em lutar contra seus sentimentos mais que explícitos continuava e repetir pensamentos de “eu não o amo” para quem sabe assim dá-lo como morto em sua mente.

O problema era que apesar de tudo e entre tantas coisas ainda havia amor.

A Vila

Textos
No meio da mata havia uma vila secreta e lá moravam 25 pessoas, todos eram felizes – ou pelo menos pensavam que eram – até que um dia chegou uma viajante que mudara tudo. Thomas era alto, em relação aos moradores da vida, tinha cabelos escuros, pele azeitonada, olhos de um verde amarelado e era magro, porém tinha um corpo de quem passava o dia se esforçando para ficar daquele jeito. Caminhando sem rumo o rapaz acabara se perdendo e descobriu aquele lugar, tudo era muito charmoso, como se gigantes estivessem construído uma casa de bonecas rústica.
Naquela vila existiam certas regras, lá era: proibido mentir, só poderia amar duas da família e no máximo uma pessoa de fora da família, só era permitido consumar o ato sexual com uma pessoa apenas, não era liberado qualquer tipo de preconceito e era extremamente banido a exclusão de pessoas e animais. Em relação a contagem de pessoas que se pode amar o chefe da vila tinha uma explicação, quanto menos o número de pessoas que ama, mais atenção dará a elas.
Com a chegada de Thomas os moradores aprenderam a falar outra língua, cozinhar coisas diferentes e descobriram o que era amar de verdade! O belo viajante lhes contava histórias de quando ainda não havia se perdido e que todos se amavam sem restrições, ele dizia que amava incondicionalmente toda a sua família e que já fora apaixonado antes, no entanto não deu certo e ele resolveu buscar outro amor!
No meio de tantas histórias os moradores começaram a descobrir sentimentos diferentes que nem sabiam que existiam! Com Thomas acabaram descobrindo que podiam amar muitas pessoas e serem felizes, porque apesar das mágoas eles seriam amados e amariam de volta, que as tristezas chegam independente de qualquer restrição.
Muito tempo depois Thomas encontrou o seu caminho de volta e com todo o amor liberado e espalhado e vila a cada dia foi crescendo e para os que chegavam à vila contam que vivem em completo amor.

Realidades dos sonhos

Textos
Olhe nos olhos e escute a batida do coração misturada com o som da respiração, desfoque. Passos de idas e vindas, um sapato de sola gasta e chicletes mascados por toda a noite.
Ao som da banca indie na cabeça a única coisa que lhe restava fazer era fechar os olhos e respirar, concentrar e esquecer… Tum tum tum era o som da bateria na cabeça.
Uma mão fria lhe tocava o pescoço e era um rapaz alto de aparência bem cuidada, dentes perfeitos e um perfume tentador, ele parecia estar fora do seu “habitat”, ela abriu os olhos e enxergou claramente os lindos olhos negros dele. De alguma maneira era muito fácil passar a noite admirando aquele rosto e até que a voz grave e suave cortou a hipnose, “Boa noite”.
Tonta e sem direção ela respondeu e iniciou uma conversa, sorrisos, toque de mãos e suor escorrendo pela espinha, a menina estava nervosa e perguntava-se “De onde apareceu ele? Onde esteve antes? Por que me tira o ar? Não posso perder a direção da conversa, ele é gentil demais para eu lhe fazer repetir as falas!”.
Além de gentil foi fácil descobrir que ele era extremamente inteligente, mas lhe faltava algo, ainda não sabia o que era talvez fosse o senso se humor e isso era essencial! Continuaram a conversa no café da frente, onde era calmo e nas caixas de som tocava “no buses” de arctic monkeys e isso a tranquilizava. De repente um telefone toca e o rapaz se levanta lhe dando adeus e no meio da despedida a menina acorda e tudo não passara de um sonho.
Levantar, escovar dentes e tomar banho e quando estava saindo de casa ela avista um rapaz alto de aparência bem cuidada, dentes perfeitos, olhos negros e um perfume tentador.

Relatos de Banco

Textos


Em pé de um canto no banco eu segurava o riso, pois via coisas absurdamente comuns em banco, porém engraçadas, para mim. Uma senhora com aparência “sofrida” que estava revoltada com o fato de o banco demorar a abrir e porque algumas pessoas tentavam furar a fila, atendia ao telefone aos berros e dizia “ALÔ? OI? O QUE É? ESTOU OUVINDO!” sim, ela e todos no banco ouviam sua ligação.
Naquela manhã foi dividido em dois momentos… Antes e depois do telefonema da mulher.
A todo o momento ela sacodia o pé, olhava em volta e reclamava “Esses dai da frente pensam que a fila é ali?”. A cada minuto que passava a quantidade de pessoas aumentava e o banco não abria suas portas, até eu comecei a ficar “revoltada”, funcionários entravam e saíam, mas o banco não abria.
Um grupo de senhoras idosa no início da fila conversavam sobre criar crianças que não eram do seu sangue, mais telefonemas, toques de telefone com músicas “desnecessárias”… E o banco não abriu, nunca.

Teodoro

Textos
Naquela casa grande havia um quarto pequeno de paredes frias e escuras, o quarto tinha pouca iluminação, mas dentro dele havia uma energia revigorante. Em uma cama antiga tinha um garoto de poucos cabelos e um lindo sorriso no rosto, por trás desse sorriso se escondiam enormes olheiras e uma cara de cansaço que dificilmente aparecia.
Era aniversário do menino, seu nome era Teodoro, todos estavam tristes como se estivessem em um velório, pois provavelmente aquele era o último aniversário dele. Mas só bastava olhar para Teodoro e todos viam um sorriso contagiante! Ninguém entendia porque tanta felicidade e um senhor que era amigo antigo da família sentou ao seu lado e começaram uma longa conversa…
Sr. José: Teodoro porque vive a sorrir mesmo sabendo que está beirando a morte? Não tens medo?
Teodoro: Medo de que Seu José? De morrer? Esse medo eu nunca tive, o meu medo é partir e deixar dor nos corações, partir e sofrer com aquele vazio de “eu podia ter dito e feito mais” e Seu José esse é um peso que não carrego comigo.
Sr. José: Eu nunca pensei na morte dessa maneira meu filho…
Teodoro: Todos os dias eu faço questão de mostrar a minha família e amigos o quanto eu os amo e o quanto eles foram importantes em cada momento da minha vida, desde as vitórias até as derrotas.
Sr. José: E meu filho se pudesse escolher qualquer presente de aniversário, o que pedirias? A cura da sua doença?
Teodoro: Não, eu pediria dias, mais dias de vida é só o que me deixaria mais feliz.
Sr. José: Mas tu me disseste que não tinha medo da morte!
Teodoro: E eu não tenho, mas não é porque não tenho medo que quero morrer, mais dias me trariam mais felicidade, mais visitas, mais risos… Seu José até mais um dia deitado nesse quarto escuro me deixaria o menino mais feliz do mundo!
Para aquele jovem menino, que esperava sentado e sorrindo pela própria morte, só o que era necessário só mais um dia de vida, e só mais um dia comum faria dele um garoto feliz.