Sorrisos, cigarros e memórias

Julhy Van Den Berg

Trago o cigarro na esperança de acalmar os ânimos da euforia que muitas vezes é confundida com a ansiedade, da felicidade de bons dias, e da tristeza dos dias cinzas que tanto me assustam.
Minha boca toca o filtro, puxa o fumo e meu peito relaxa, mas as lágrimas caem e me toco da importância de não coloca a nicotina no meu corpo, tarde demais. Fuçando as caixas de memórias, que minha mente guarda de uma maneira nada aprovada por Marie Kondo, meu peito acalma e todos os demônios se calam.
O ontem vai se repetir, amanhã vai passar e hoje é importante também.
É engraçado como tem memórias que pregam na gente, meu corpo ainda se arrepia inteiro toda vez que me recordo da voz rouca, do gemido que sai entre os lábios e caiam no meu ombro. Talvez eu precise iniciar a prática de abraçar, agradecer e deixar essa recordação ir, no entanto é gostosa demais pra largar.
Então eu beijo outro cigarro para descansar meus lábios do sorriso besta que minha boca não resiste em arreganhar, toda vez que topo com essas memórias no início, meio ou fim do dia.

Oi, como vai a vida?

Julhy Van Den Berg

A vida hoje tem cheirinho de café pela casa, pernas pra cima, dança estranha, banho longo, soninho da tarde, noite e manhã.
A vida hoje tem um gosto, que não é aquele amargo, é doce, salgado, cítrico.
Tem cerveja na geladeira.
Tem um peito relaxado, uma respiração mais calma.
Tem amor acordando na cama, no banho e na cozinha fazendo comidinha.
Tem amigo batendo na porta, carregando sorriso no rosto e abraço apertado.
Tem eu.
A vida hoje tem muita felicidade.

Vá, mas volte logo

Julhy Van Den Berg

Eu não te quero
Não te quero feliz
Te quero diferente
Diferente dos outros
Diferente de todos
Te quero transbordando
Em pura felicidade
Seja a 1mm ou a uma milha de distância
Te quero feliz
Independente do que custe
Do que doa
Do que mude, transforme
Te quero feliz, sorrindo, ali, aqui, acolá
Porque foi pra isso que tu veio
Que tu vai
Pra sorrir
Chorar
Gargalhar

O Sonho

Textos

Imagem

Em uma cidade beira mar havia um grupo de jovens que se dedicavam no cuidado de cadeirantes, sim, eles cursavam uma faculdade específica para cuidar daqueles que não podiam usar as pernas como os outros. Entre esses estudantes tinha uma garota meiga, calma e que nunca falava, muitos achavam que ela poderia ser muda e outros pensavam que a menina era só tímida, até demais. E então todos os dias aqueles cuidadores se empenhavam em dar apoio aos necessitados, encontrando nos sorrisos cansados o pagamento do trabalho.
Após o serviço Alice, a menina possivelmente muda, caminhava até uma caverna que se encontrava na praia, ficava descalço ela sentava em uma pedra e esfregando os pés na areia úmida finalmente emitia sons, cantando lindamente e a percussão ajudava a deixar sua voz cada vez mais encantadora, tudo se casava naquele local. Pescadores que rodeavam o lugar e que por sua vez acreditavam em lendas tinham medo de seguir até onde estava a menina, pois achavam que seria uma sereia, pronta para lançar neles o seu feitiço. Logo anoitecia e nossa cantora retornava a calar-se e ia para casa. No outro dia tudo se repetia.
Então com o passar do tempo Alice começou a se soltar e muitas vezes era vista cantando pelos corredores, sorridente – como de costume – ela até puxava assunto com os pacientes e em certo dia um deles, que se dizia adivinho, parou a menina no meio do salão e disse que logo algo magnifico aconteceria em seus fins de tardes cantantes. A garota um tanto assustada, pois não sabia como aquele paciente sabia da rua rotina, apenas sorriu e continuou a caminhar pelo salão, indo até a saída e assim seguindo para sua caverna.
Após uns dez minutos caminhando ela chega até a caverna, o céu estava com aquela mistura simpática do laranja e rosa, como sempre a menina tira os sapatos e finca os pés na areia úmida, senta na pedra e enche os pulmões de ar, então canta. É ai que algo talvez mágico acontece, a água do mar dança conforme a voz de Alice, a areia se move – arrasta-se – e as pedras se chocavam fazendo um som amigável com a canção, a menina sorria, cantava e sorria com uma alegria ímpar e aquela imagem era linda, como disse o paciente era magnífica. Digna de um sonho, tudo ocorria com perfeição, casava, aninhava-se fazendo dos vários um.
Infelizmente no fim era um sonho, não um sonho de Alice e sim de alguém que busca essa Alice pelo mundo, ainda desconhecido.