Ímpares

Entre Amigos

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Por mais que as horas passem, os dias acabem e os anos recomecem nada muda. Eu ainda olho para a lua e penso em ti, e isso jamais será clichê. Nós sabemos que as batidas dos nossos corações um dia hão de se unir pelo propósito único do nosso amor. Adestrar-me a continuar sem você é o que a vida me traz de sobremesa. É amargo o gosto de um beijo que, muito se esforçando, não chega nem a abraço. Um beijo que implora pra acontecer, e que, no entanto pede perdão por não poder existir. Entramos em consenso. Sem beijo, sem carícias, sem mãos por entre os cachos negros. Sem insistir, sem desistir. Apenas levo no peito a vontade, no rosto o sorriso que um dia será seu. Nos pés, levo toda a estrada que trilhei sozinho, esperando encontrar você, vindo na direção oposta.
Sinto falta da tua pele branca que nunca toquei, da sensação de agonia da tua barba que nunca senti e da segurança dos teus braços que futuramente estarão ao meu redor, guardando-me do medo de te perder. Tenho desejo do teu par de olhos negros me enchendo de observações, sinto sede da tua pele tocando a minha meio que despercebidamente num caminhar vespertino.
Venho a mais ou menos 1460 dias sentindo o vazio do tamanho de sete grandes lagoas; carrego em mim o pesar da saudade daquele que jamais fiquei frente a frente. E me deito mais uma vez. Por alguns instantes o universo pode ser atravessado em um único passo, e então você está comigo — Aos berros, aos beijos, aos ventos soltos que te trouxeram pra mim. Penso em você como se o mundo se reduzisse à nada e de repente você está ali, pronta pra mim, vestida de sorrisos que despertam em minha boca o prazer de gargalhar também. Pois se sorrir tiver um tamanho, que seja maior que a boca. Se viver tiver um tamanho, que seja menor que a distância entre nós. E se por fim amar tiver um tamanho, que seja maior que nós dois. Ou que seja imensurável então! Afinal, entre dois lábios, pensar ou não em dizer alguma coisa já não faz sentido. Conversamos tanto antes de sermos um do outro… Silêncio faz mais sentido agora. Calar os lábios, molhar os beijos, sermos ímpares. Sermos enfim um par.

Texto escrito em parceria com Gustavo Pontelo de The Revange

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