Até mais ver

Textos

E vai chegar mais uma vez aquele momento revivido de seis em seis meses, ou menos! Mas que me parece ser sempre de dez em dez anos, tu partirás novamente rumo ao teu futuro e eu ficarei aqui a cuidar do meu, voltaremos àquela comunicação de telefonemas, e-mails e tudo utilizando os mais precários meios. Teremos de novo aquelas interrupções de mães chamando, telefones falhando e conexões caindo. E suportaremos.
Quando tu chegas é uma festa para mim, no tempo que fica aqui nós brigamos, damos risadas e fazemos a pazes por inúmeras vezes, sendo que para falar a verdade brigo sozinha, pois tu te calas e apenas observa a minha ira inútil de quem só terá o trabalho de ficar calma depois. Na partida nosso “até logo” sempre é breve, para poupar todo o sentimentalismo que eu coloco nesses acontecimentos e prevenir que o mesmo nasça em ti.
Todos sabem que estamos até acostumados com isso, ou que deveríamos estar, tu podes está, mas eu não. Eu aguento mais um ano, suporto até dois ou três, mas não sou forte o suficiente para os dias, são dias demais para a minha cabeça, e mesmo que eu coma a minha saudade não passa.

O anjo de todas as horas

Textos
Abrir os olhos estava difícil, o cansaço dominava-lhe todo o corpo, a cabeça doendo por falta de sono e debaixo de cada olho moravam duas enormes olheiras negras. Matina era uma coisa que não se encaixava no seu vasto – ou nem tão vasto – dicionário. Ao sair de casa para começar o dia vinha ao rosto a forte luz exageradamente quente do sol, o calor beirava a seção de se encontrar no inferno, mesmo nunca tendo chego perto de saber como realmente é. Acho que é isso que as pessoas muitas vezes fazem… Comparar situações com certas situações jamais vividas e até impossíveis de ser vividas.
A tarde que aparentava ser provavelmente longa foi interessantemente rápida e tranquila, bem no meio foi interrompida por uma ligação, do outro lado da linha havia quase um pedido de socorro, um pedido de “me escute, me ame, me faça rir e ser feliz, me ajude a ser mais forte”. Lágrimas lhe enxiam os olhos – isso não foi informado ao amigo – e por trás das lentes escuras de seus óculos ela tentava disfarçar o aperto que sentia no meio daquela tarde. Ela sentia a falta dele e por mais que dizia “calma, isso é uma fase e tudo vai melhorar” ela se controlava pra não dizer “volta! Eu sinto tua falta e tu não sabe o quanto, eu te quero aqui pertinho”.
Nossas vidas nos mostram a cada dia o peso dos sacrifícios que fazemos por quem amamos, pelos nossos sonhos… E apesar de sempre valer muito a pena, dói e cada passo a ser dado é luta consigo mesmo. Sacrifico isso ou aquilo? É tudo uma escolha cruel.
O telefone foi desligado, a aula iria começar, despedidas breves, apertos nos corações insistentes. E as escolhas? Feitas.